domingo, 17 de julho de 2016

As verbenas de Bragança

Iniciei a minha vida profissional, como já referi anteriormente, em Bragança.
A viagem do Porto para esta cidade transmontana foi-me muito agradável. Fi-la de comboio, uma parte pela linha do Douro com vistas panorâmicas de rara beleza sobre o rio do mesmo nome e a outra parte pela linha do Tua também muito paisagística.
Cheguei a Bragança ao cair da noite de um dia no final do mês de Abril de 1957.
A cidade, há muitos anos, era relativamente pequena. Acabava praticamente logo depois do edifício dos correios que ainda hoje existe no mesmo local.
Bragança era constituída pelo seu centro histórico desenvolvendo-se ao seu redor uma pequena mancha de construções modernas. Cheguei como disse no final do mês de Abril de 1957. Já não havia frio. As temperaturas da região já eram nessa altura relativamente moderadas.
O que me impressionou mais na cidade foi a população feminina. Era notoriamente constituída por um número superior ao dos homens.
Sempre que havia uma festa, um ajuntamento qualquer que fosse, era notória a preponderância das mulheres. A razão principal disso acontecer seria por Bragança não ter, nesse tempo, grandes oportunidades de emprego para os homens., pelo que eles, procurando trabalho, abandonavam na juventude a sua cidade.
Por outro lado, como Bragança não disponha de qualquer escola superior os lugares de chefia e de outras posições intermédias das repartições do Estado eram preenchidos normalmente por indivíduos com formação adquirida nas grandes cidades como Lisboa, Porto ou Coimbra.
Quando fui colocado em Bragança, vindo do Porto, eu tinha apenas vinte anos de idade. E nos primeiros dias levei na cidade transmontana uma vida muito recatada, ocupando o meu tempo a trabalhar pois as minhas relações pessoais eram muito poucas resumindo-se praticamente aos meus companheiros de mesa da pensão onde me instalei.
Em Maio, contudo, tive conhecimento que numa Alameda, perto do Liceu, tinham sido iniciadas umas verbenas, festas populares com música gravada.
Resolvi por isso numa certa noite ir até lá.
Andava eu, sozinho, gozando o novo acontecimento da cidade quando ouço no altifalante da festa o anúncio de um disco que me era dedicado nestes termos:
- Ao senhor engenheiro Fernando de Pinho Valente um grupo de admiradores dedica-lhe o seguinte disco:
E logo de seguida se fez ouvir uma canção espanhola muito em voga: o Beija-me mucho cantado por uma jovem intérprete.
Fiquei, dada a minha natural timidez pouco  vontade com a situação criada. Ainda assim permaneci na verbena até que a música deixasse de se ouvir.
Mas, depois, calmamente abandonei o local.
Mais tarde descobri quem foram as autoras da ideia.
Na Direcção de Urbanização de Bragança onde fui colocado exercia também funções um desenhador, já na meia idade, que com o seu sétimo ano dos liceus ( actual décimo primeiro ano) sendo bom em matemática era explicador dessa disciplina. Dos seus explicandos fazia parte nessa altura um grupo de raparigas que, com os seus 16-18 anos de idade se preparavam para o exame do quinto ano dos liceus ( nono ano de hoje) no intuito de entrarem na Escola do Magistério Primário.
E foram algumas dessas raparigas que sabendo pelo referido desenhador o meu nome resolveram dedicar-me o referido disco.
A Escola do Magistério Primário era a única oportunidade na sua cidade que os estudantes do Liceu de Bragança tinham para continuarem os seus estudos.
Era uma escola com muito frequência, na sua grande maioria de raparigas.
Um colega meu chamava-lhe o viveiro das trutas. Muitas vezes me convidou a dar um passeio até à Escola Normal ( também assim chamada ) para ver as raparigas à saída do viveiro, que eram na verdade na sua grande maioria mulheres bonitas e fisicamente jeitosas.

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